Infantilização até à terceira idade

by offarinha

Ao que se lê aqui, uns deputados do PS vão apresentar uma proposta de projecto de resolução (ufa!) ao plenário da AR no sentido do Governo facilitar as condições para que os alunos, concluído o 12º ano, possam viajar durante um ano. Esta espécie de Erasmus antecipado, baseado numa única experiência, ao que parece, bem sucedida, visa fazer ganhar maturidade aos jovens portugueses. Convém dizer que a ideia do anée de pèlerinage é, no tempo, oitocentista, no espaço, inglesa ou nórdica e, socialmente, aristocrática.

A concepção subjacente à pausa, abundantemente apoiada (embora sem unanimidade) em vasto relambório dos especialistas do costume, é a de que os nossos alunos, no final do secundário, são imaturos e precisam de «abrir horizontes» para poderem enfrentar os obstáculos de um curso superior. Aqui há uns anos, os alunos terminavam o secundário e entravam de imediato na Universidade. Depois inventou-se um Serviço Cívico, um Ano 0 e, finalmente, o 12º ano. Agora, constatam que os pobres infantes lusitanos ainda estão imaturos e sugerem um novo adiamento de maturação acrescida.

Não se discutindo aqui o eventual proveito da medida caso a caso, pergunta-se: não será a pausa para viagem antes um corolário do que uma causa da tal maturidade? E, reconhecida a evidência da imaturidade, não seria antes, em vez de procrastinar a sua resolução para um futuro nebuloso e por meios frustres, de atalhar nas causas que a possibilitam, a têm mantido e feito aumentar?

Ou, em vez de se começar – finalmente – a exigir aos alunos a responsabilidade devida aos seus anos e o cumprimento dos deveres que lhes são próprios, pretende-se arrastar a fase da adolescência até perto da terceira idade?